Se pudesse falar das coisas de forma plena, sem fragmentos, sem grandes agonias ou intensos impulsos, no rosto passivo, contemplaria o vazio. No entanto, o coração pulsa rápido, num desatento compasso, caindo passo a passo, num desatino. Voando para além de tudo que é real.
A palavra move, crava crivos e clavas em peitos frágeis; cravos e travas em mãos de ferro; cacos e pregos em pés de bronze, num corpo incendiado pela loucura, aliada à cumplicidade.
A palavra penetra no fundo, mexe na inspiração e na expiração, tornando os seres espiralados caóticos e multidimensionais. E os rios de vida deslizam tranquilos, como sonhos, que começam a fervilhar feito pesadelos.
Será a pulsação do sangue que borbulha até a ponta dos dedos? E oferece o fogo para queimar-se vivo? Deuses, salvem e resgatem a todos de tão torpe heresia. Fogo sagrado! Elimine esse atroz destino, em mãos inocentes. Triste sina dos amigos do finito tempo de espera.
Criam-se símbolos, palavras, poesias e canções, para dar significado às humanas vidas inúteis. É tudo insignificante, difuso, confuso e então, cria-se o sagrado e o profano junto a artimanhas cheias de teias e esteios, para não perder o significado... Para não perder a vida.
Não há vencedor, nem vencido. Vive-se a mesma dor, denominador comum. Vive-se o mesmo contexto descontextualizado, das frágeis memórias fracassadas pela inconsciência.
Todos têm a mesma trágica história, não por privilégios, mas por condenação.
Não há vaidades nisso, só certa dor ou asco. Não há indivíduo dramático, a aventura humana que é...Todos, a derramar o sangue e a linfa em atos reais e simbólicos. Saem, do eu para você, do você para o nós, com uma mobilidade invejável, como se tudo fosse a mesma coisa, sem nenhum parâmetro ou preconceito.
Os “instintos” dizem que há unidade na multiplicidade e sabe-se, tanto um como outro, que nada é por acaso. Até o lançamento de um olhar tem os seus significados ocultos, mistérios insondáveis da natureza humana.
Não adianta perder-se em teorias quando se foge ao óbvio. É preciso ver o evento em tempo real e ao mesmo tempo dentro da relatividade do tempo. Todos, massa e energia, a única diferença é a cultura inútil. Então é inútil sentir-se acima dos minerais, vegetais e animais. É uma bela irmandade!
Guerra incessante, a verdade é que todos são espelhos insanos no qual se projeta a imagem retorcida e umbralina da decadência.
Quem busca na aventura humana todo o sal da terra está condenado a andar no fino fio da navalha. Nessa perigosa aventura não há passado nem futuro. Só o presente, de presente e essa, é a única coisa a oferecer, não descartando a possibilidade de ser tão pouco.
Encontram-se no mesmo barco, atravessando o limite entre a consciência e a loucura. Atravessando o labirinto, com a esperança de retornar intactos pelo fio da Ariadne.
Os vaidosos perdem-se e os distraídos não sabem por onde caminham.
Ao trilhar o fio da navalha, aprende-se com as observações, análises e intuições que não se pode afirmar nada sobre nada e que os paradigmas passam conforme o tempo e o espaço.
Sabe-se da verdade absoluta, que ninguém tem direção nem constância, portanto, vazios de qualquer atitude ou circunstância determinada. Passa-se pelo bem e pelo mal só pelo prazer de provocar os dois. Na verdade é o paradoxo que atrai e não a determinação de uma concepção do mundo.
Concebe-se o mundo, eternamente delineado pela dualidade que é uma lei física e metafísica. Busca-se a síntese pelo prazer da transcendência.
Energia eletrônica e atômica em si e fora de si. Não cabem as determinações quando turbilhões de movimentos, interpõem-se diante das concepções e paradigmas. Nesse turbilhão, vislumbra-se uma ordem implícita e o deleite das sensações mais puras, sobrevive às turbulências, explicitando a ordem cósmica.
De situações em situações, sentindo e intuindo, analisando e transformando tudo a cada segundo, sem nunca perder a capacidade de espanto e admiração.
A capacidade de assombro diante de qualquer fenômeno ou movimento é tal, que parece ser drama ou exagero. Na verdade, a expressão plena das sensações mais puras, dos sentimentos mais nobres, dos pensamentos mais profundos e dos movimentos mais dúbios...enfim, o ser e o não ser.
Elizabeth