sábado, 29 de setembro de 2007

SINTO, LOGO EXISTO E PENSO FUTILIDADES!

É uma corrida louca/
Alucinante/
Quase chego ao sol/
E só o quase/
Não me deixa perdida/
Dentro de você/
Só o quase/
Faz-me lembrar/
Que estou no mundo/
E que no mundo/
Nada me satisfaz/
A vida/
O mundo/
O homem/
Todos me fragmentam/
Todos me despedaçam/
E só eu sei o jogo/
Pra montar/
Como um quebra-cabeça/
Meu Deus ( existe? Sente? É?)/
Nem o ópio/
Nem a Bíblia/
Nem a 9ª de Beethoven/
Podem curar essa dor/
Só aliviar/
Droga de existência:/
Eu queria que o Universo/
Fosse uma extensão de mim.../

Eliza/Beth





Nada pode curar essa dor, só aliviar... E o alívio está na luz, no som e na cor. Por um momento sutil sinto a poesia aliviando minha dor. E devolvo o alívio com palavras encantadas, apreciando o som e a grafia.

Nesses intervalos pueris, paramos o choro e brincamos. Enquanto os doces poetas sombrios cantam e choram músicas de dores, eu fico apenas em silêncio, apreciando. Sem movimento, escuto as canções, sentindo as delícias do prazer, do choro e da dor. Um emaranhado de gozos misteriosos! Queria falar a linguagem dos anjos inefáveis e da maneira mais pura expressar o meu gozo. Mas sou humana demais e só me resta sincronia. E as dores? Devoro-as como as ervas do meu quintal! O prazer está acima do bem e do mal? À sua sombra a luz irradia e eu penetro nas duas só para me deliciar.

E ao ver tanto sangue, derramado por entre minhas agonias, sinto apenas um desejo de lambê-lo só para sentir o gosto do vermelho, mais que o gosto, a gustação.

E essa condenação é inerente!

E nada pode me libertar!

E Prometeu é Lúcifer!

Você chora e eu brinco ou você brinca e eu choro?

A sua máscara é a minha verdadeira face e os seus sonhos, a minha realidade. E essa dor atroz que nos invade e que nos consome é o resquício perdido em Eras mezozóicas. Estúpidas lembranças arqueológicas.

Doce criatura sombria a sua poesia pulsa fúnebre num cortejo as minhas. Só a poesia nos liberta desse monstro de nós mesmos.

Não sei quem sou eu e nem você quem é, mas cresce um desejo de penetrar mais fundo nas palavras, entranha-las e faze-las brotar poesia!

Elizabeth

terça-feira, 18 de setembro de 2007

VOCÊ VAI ME PERDER PARA SEMPRE


Como poderia perder algo que já se possui?

Como poderia ganhar ou perder, dar liberdade ou usurpar se dentro de nós existe toda sorte de liberdade e toda sorte de desenganos?

Dentro de nós é tudo tão natural e não contribuímos em nada para isso. Simplesmente somos. E como tudo, não criamos e não perdemos, só nos transformamos como lagartas em borboletas coloridas, voadoras salientes que chocam nossas débeis retinas desconexas.

Mas o verbo tem poder, a palavra é forte, uma energia poderosa que se desprende das nossas bocas e não sabemos o suficiente para compreender a extensão.

Ao pronunciar “para sempre” é como se fosse eterno. Uma corrente elétrica violenta o frescor das células, dando lugar a um calor adrenalínico. O medo ilusório encobre a consciência. O sentimento e o pensamento colhem isso como uma “verdade”. É num lapso se escuta o estrondo do trovão em meio a uma violenta tempestade sem fim. O desespero se instala levado pela ilusão do segundo.

Ao sentir você saindo de mim, espalham-se o estremecimento e a agonia em meu corpo porque não queria lhe perder para sempre. Um momento de impulso e sobrevivência.

No outro segundo, a compreensão vem chegando vagarosamente e pousa tranquila. E só então as palavras ressoam serenas aos ouvidos mágicos de quem as escuta. E num gesto metalinguístico me estendo diante de tudo quanto é horizonte só para mostrar que sou vertical.

Só tive medo de nunca mais poder segurar suas belas mãos e nunca mais beijar seus olhos profundos e nem abraçar o seu corpo quente ou cheirar os seus cabelos molhados. Só foi isso, mais nada! Foi por isso que me tornei tão humana diante de um segundo enlouquecedor. A fragilidade me pegou de jeito, mas tudo isso é necessário para quebrar o orgulho de ser divina. Esse segundo enlouquecedor da perda, é um ritual... Uma tentativa de rompimento do elo. Um ritual de rompimento, essa mania de inventar coisas...

O nosso texto, já virou um contexto. Eu sou o poema e as palavras e depois trocamos as posições num gesto arbitrário e sincronizado. Enfim, não se distingue mais qual é o coração que bate mais forte. O seu ser me completa! E nele, está todo o entendimento dos meus impulsos decadentes. E nesse amor trivial de deuses travestidos em humanos, cavalgamos espaços em vassouras mágicas. Deuses que devoram estrelas num gesto canibalístico ou cabalístico? O desejo transcende e dança, criando universos.

O meu êxtase sem fim é sugar a sua essência, interpenetrando na minha, num gesto andrógino e intenso.

Se a profundidade é um vício, a vulgaridade é uma droga. Quanto mais profundo, mais dolorido. Não há outra saída e essa é, a única possibilidade da viagem louca para dentro de mim.

Nunca perderia você para sempre. Não se perde o que se é. É impossível romper-se. Existe por si só e sem um pingo de dó ludibria nossas mentes vãs. É o amor das mil faces que tenho em mim, estão todas entrelaçadas às suas mil. Para cada face, a outra face que nos oferecemos de graça, só para achar graça em tudo que fazemos. E não minto “quando juro amor sem fim”

O meu amor é o prana que alimenta minhas entranhas sequiosas de amplidão. É o amor de vôos etéricos, alturas plenas, abismos cósmicos, silêncio de mantrans. O feminino e o masculino num eterno conúbio, ultrapassando os limites de espaços, tornando-se uma unidade perfeita. A mesma substância e a mesma energia.

Vamos fazer de conta que está indo buscar um copo de água para matar minha sede. Vou ficar esperando a água para me saciar. Enquanto isso, Correrá o mundo, vestindo muitas fantasias, criará laços e por fim esquecerá do meu copo d’água. De repente, lembra da sua verdadeira origem que termina sempre em mim. E eu lá, esperando o copo d’água por séculos. Então, chegará o nosso novo encontro: a minha sede e o seu líquido! E não é preciso rastrear seus passos, com toques ou retoques, com tatos e contatos, apenas a percepção plena das cores, dos sons e dos símbolos. Tudo isso, porque não tenho a palavra adequada pra por na “boca malvada da sua descerebração”.

Enquanto não rompemos os laços momentaneamente, vamos passear juntos pelos jardins e esplanadas, só para não se perder do todo. Não nos cansemos nem nos desgastemos em vão, só vamos olhar um para o outro sem se desviar, apenas e tão apenas para não se perder do todo.

Enquanto não há fusão só vamos falando da sede e da água, como um mantran que nos mantêm ligados a esse cordão invisível.

Fique mais um pouco comigo, porque o tempo e o espaço é uma mera ilusão dos nossos sentidos. Fique mais alguns segundos para que eu possa re-lembrar.

A sua presença é uma luz que irradia em mim feito néon e quando alçar meu vôo, levo você comigo arrebatando-o sem dor nem piedade, pois sei que está ligado a minha natureza cruel. Uma luz que jamais se extinguirá! 

Elizabeth

domingo, 9 de setembro de 2007

NOBRE GUERREIRO

Caminho trôpega pelas estradas humanas, com o tédio dos que não encontram a plenitude.

Afinal, o conhecimento me alimenta cá e me deixa faminta acolá.

Vivo caminhando insaciável, parando em todos os oásis que encontro... Com essa fome inexplicável, de fruta que não existe... Tudo tão incerto e ao mesmo tempo tão definido.

Entremeio a esses paradoxos, meu ser, num "desespero agradável" (Désespoir agréable) se envolve na mais pura realidade: apenas ser e mais nada.

Permaneço como uma efígie criada por mim mesma em meio a uma multidão de seres multiplicados.

De repente, algo inusitado, alguém tão parecido... Será uma miragem? Fico muda e sem ação. Uma semelhança que entorpece e inebria.

Não consigo compreender essa raridade e quando não se conhece o âmago das coisas, ficamos à mercê das dúvidas mais cruéis. Dúvidas que movem e a tudo gira.

Nessa roda de Samsara que pode ser o seu último giro. E por que afirmo isso? Invejo seu destino, nobre guerreiro, quem me dera fosse o meu último também e definitivamente, pudesse inexistir. Mas sei, sinto a condenação ao degredo e a busca do verdadeiro ouro e do verdadeiro elixir. Mas é tão difícil distinguir entre eu e eu, não é mesmo? E entre eu e você?

Fico então sem palavras e sem ação... No mais torpe dos anseios em desvendar esse mistério... Ao mencionar sua força de Guerreiro Xamâ, dá ênfase à minha fragilidade... E quando demonstra sua fragilidade, desperta minha força. Que simbiose mais estranha! E eu, fascinada pela força masculina, ousada e determinada... Perco-me em devaneios tolos, diante da graça e da beleza. Mas, pensar não é a melhor solução, melhor seguir os instintos. Fico divagando sobre esse fascínio que exerce sobre mim. 

Viver atraída pelas Forças da Natureza, resulta nisso... Estou aqui, inebriada com suas palavras de encanto. E como desencantar, se não tenho o Caduceu de Mercúrio? E nem asas nos pés para fugir? O sabre de luz foi lançado num espaço desconhecido e o cálice sagrado arde-se em fervuras vaporosas. Tudo está fora. Dentro, só tenho essa vaga noção de onde estou e que tudo é uma mera ilusão dos meus sentidos, sem sentido...

E aquilo que parece ser, não é! Então, o que realmente é?

Elizabeth