domingo, 29 de julho de 2007

HERÓI DE MIL FACES

Sempre vou aparentar utópica e infantil, em tudo o que faço, mas é a minha natureza e não posso negá-la. A negação seria render-se a hipocrisia.

A fragmentação e a confusão em que me embrenho é visível aos olhos de todos.

Lanço as coisas de longe para não atingir com muita violência. É preferível, às vezes, que permaneça no ar, do que atingir mortalmente.

O princípio de liberdade é fundamental ao ser humano. É ela quem me dá o ímpeto para viver. Sem ela, sou estéril e infrutífera. É gostoso dar frutas e desfrutar.

Estou sempre surpresa diante das faces encobertas... Minha sina é retirar o véu e enxergar o herói incisivo de cada um. O ato de heroísmo, na maioria das vezes está dentro de si e não na bravura ou na valentia externa.

O herói em sua saga, silencia peripécias e nem sempre é um ato grandioso como nos mitos... É aqui e agora! Enfeitamos com mitologia, as verdades penetrantes. A beleza da verdade não condiz com a realidade trivial e por isso a encobrimos com muitas teorias.

Por que será que somos tão indecifráveis?

Pergunto, pergunto e as respostas sempre distantes... Talvez fiquem nas estrelas, que brilham e seduzem. Fico então a observá-las, hipnotizada pelos seus mistérios longínquos. Entristeço-me em desconhecer os segredos, então penso no encanto de não saber das coisas e isso supera e alivia o coração dilacerado.

Os pés, não fincados no chão, devaneiam por sobre toda estabilidade, suspensos no ar. E ao vislumbrar todo mistério, estremeço e caio como uma pluma pela terra dos homens. E ao tocar com os pés no chão, sinto forças para dar novos saltos quânticos. É um impulso excitante...

A linguagem é a expressão de todo pensamento mais íntimo e intenso. E ao usá-la, minha essência desabrocha, saindo de um mundo paralelo. Salta para os ouvidos mágicos de quem as compreende.

Depois de tudo, só os verdadeiros heróis são capazes de apreciar. É preciso ter os olhos de uma criança para ver a beleza do universo.

ELIZABETH

quarta-feira, 18 de julho de 2007

ANDRÓIDE POSSUIDOR DOS ANÉIS DE SATURNO



Se pudesse falar das coisas de forma plena, sem fragmentos, sem grandes agonias ou intensos impulsos, no rosto passivo, contemplaria o vazio. No entanto, o coração pulsa rápido, num desatento compasso, caindo passo a passo, num desatino. Voando para além de tudo que é real.

A palavra move, crava crivos e clavas em peitos frágeis; cravos e travas em mãos de ferro; cacos e pregos em pés de bronze, num corpo incendiado pela loucura, aliada à cumplicidade.

A palavra penetra no fundo, mexe na inspiração e na expiração, tornando os seres espiralados caóticos e multidimensionais. E os rios de vida deslizam tranquilos, como sonhos, que começam a fervilhar feito pesadelos.

Será a pulsação do sangue que borbulha até a ponta dos dedos? E oferece o fogo para queimar-se vivo? Deuses, salvem e resgatem a todos de tão torpe heresia. Fogo sagrado! Elimine esse atroz destino, em mãos inocentes. Triste sina dos amigos do finito tempo de espera.

Criam-se símbolos, palavras, poesias e canções, para dar significado às humanas vidas inúteis. É tudo insignificante, difuso, confuso e então, cria-se o sagrado e o profano junto a artimanhas cheias de teias e esteios, para não perder o significado... Para não perder a vida.

Não há vencedor, nem vencido. Vive-se a mesma dor, denominador comum. Vive-se o mesmo contexto descontextualizado, das frágeis memórias fracassadas pela inconsciência.

Todos têm a mesma trágica história, não por privilégios, mas por condenação.

Não há vaidades nisso, só certa dor ou asco. Não há indivíduo dramático, a aventura humana que é...Todos, a derramar o sangue e a linfa em atos reais e simbólicos. Saem, do eu para você, do você para o nós, com uma mobilidade invejável, como se tudo fosse a mesma coisa, sem nenhum parâmetro ou preconceito.

Os “instintos” dizem que há unidade na multiplicidade e sabe-se, tanto um como outro, que nada é por acaso. Até o lançamento de um olhar tem os seus significados ocultos, mistérios insondáveis da natureza humana.

Não adianta perder-se em teorias quando se foge ao óbvio. É preciso ver o evento em tempo real e ao mesmo tempo dentro da relatividade do tempo. Todos, massa e energia, a única diferença é a cultura inútil. Então é inútil sentir-se acima dos minerais, vegetais e animais. É uma bela irmandade!

Guerra incessante, a verdade é que todos são espelhos insanos no qual se projeta a imagem retorcida e umbralina da decadência.

Quem busca na aventura humana todo o sal da terra está condenado a andar no fino fio da navalha. Nessa perigosa aventura não há passado nem futuro. Só o presente, de presente e essa, é a única coisa a oferecer, não descartando a possibilidade de ser tão pouco.

Encontram-se no mesmo barco, atravessando o limite entre a consciência e a loucura. Atravessando o labirinto, com a esperança de retornar intactos pelo fio da Ariadne.

Os vaidosos perdem-se e os distraídos não sabem por onde caminham.

Ao trilhar o fio da navalha, aprende-se com as observações, análises e intuições que não se pode afirmar nada sobre nada e que os paradigmas passam conforme o tempo e o espaço.

Sabe-se da verdade absoluta, que ninguém tem direção nem constância, portanto, vazios de qualquer atitude ou circunstância determinada. Passa-se pelo bem e pelo mal só pelo prazer de provocar os dois. Na verdade é o paradoxo que atrai e não a determinação de uma concepção do mundo.

Concebe-se o mundo, eternamente delineado pela dualidade que é uma lei física e metafísica. Busca-se a síntese pelo prazer da transcendência.

Energia eletrônica e atômica em si e fora de si. Não cabem as determinações quando turbilhões de movimentos, interpõem-se diante das concepções e paradigmas. Nesse turbilhão, vislumbra-se uma ordem implícita e o deleite das sensações mais puras, sobrevive às turbulências, explicitando a ordem cósmica.

De situações em situações, sentindo e intuindo, analisando e transformando tudo a cada segundo, sem nunca perder a capacidade de espanto e admiração.

A capacidade de assombro diante de qualquer fenômeno ou movimento é tal, que parece ser drama ou exagero. Na verdade, a expressão plena das sensações mais puras, dos sentimentos mais nobres, dos pensamentos mais profundos e dos movimentos mais dúbios...enfim, o ser e o não ser.

Elizabeth

segunda-feira, 16 de julho de 2007

AMIGOS ARQUINIMIGOS


Estava o monge num instante de profundo silêncio em meio a uma turbulenta tempestade de areia.

Tempestade chefiada por sete malfeitores, sete colunas de seres multiplicados.

Essa legião roubava as donzelas do reino e as encerravam em garrafas de vinho, vazias... Esvaziadas em orgias e bacanais. Entornavam o precioso líquido em taças de cristais, roubadas dos palácios.

De repente, lembrou-se o monge do seu poderoso Mantra que acalmava qualquer tempestade. Ao pronunciá-lo, as legiões viravam estátuas no mesmo instante. Os líderes revoltados desceram dos seus cavalos, tampando seus ouvidos com as palmas das mãos, dando assim, uma pausa nas investidas.

Era uma guerra... Atacavam e eram atacados, venciam e eram vencidos, capturavam donzelas que depois eram libertadas, enfim... Uma história sem fim.

Ficava ali sentado o santo Monge, assistindo a si mesmo desdobrando-se em imagens tumultuadas... Mal sabia que a Loucura, sua mais poderosa adversária, o espreitava por entre os arbustos daquela imensa floresta do reino. Dirigia toda sua força para provocar e distrair o “santo”.

Mas a cada passo que dava para aproximar-se do Monge, o som ficava mais distante. Intrigada com tal fenômeno, saltou, com seu sorriso sarcástico, na frente dele. O susto o emudeceu e ficou a contemplar a medonha figura descabelada.

Ela, cheia de fúria, por mais esse fracasso, sentou-se ao lado do monge e ali permaneceu em silêncio, conformada.

Ainda não foi dessa vez, pensou...

Quanta criação de imagens, quantas efígies inúteis... E mais uma vez ficou sem a Sacolinha Púrpura e o Mantra que tanto quer apoderar-se.

Quanta luta inútil, quanta batalha por um instante de serenidade e ali estava ele, com todos esses instantes, de graça. Ele sorria como uma estampa sem cor, um quase cinza tranquilo.

Por que seria o destino tão cheio de graça para alguns e para outros, uma desgraça?

Só bastavam alguns grãos daquela areia fina, para lhe dar o sono necessário. Poderia eliminar essa insônia desejada, os olhos doloridos por buscar a claridade, olheiras intensas e imagens distorcidas. Era preciso aliviar tanta vigília inútil e dormir a eternidade. Permanecer sem sonhos nem pesadelos, apenas um nada flutuando no éter, eternamente.

Queria apenas a inexistência e sua única chance estava encerrada naquela sacolinha púrpura e nos lábios daquele “inocente”. Ele nem sequer usava aqueles objetos tão preciosos e tão cobiçados, no entanto, era o dono absoluto da sacola.

Dádivas e dívidas... E dúvidas!

Inúteis questões que levavam a Loucura a loucura!

O tédio era tanto que nem se permitia usar a violência para tomar.

O Monge, cansado daquele mórbido silêncio resolveu manifestar-se com uma historinha vaga (será que ele conhecia o ponto fraco da Loucura?).

E dos seus lábios, foi destilando um doce veneno e a Loucura foi sorvendo e se embriagando, esquecendo a própria sina.

Num lapso de segundos imperceptíveis, o Monge, num gesto de loucura, levanta-se e inicia seu caminho para lugar nenhum.

A Loucura, hipnotizada pelo conto, esqueceu o que buscava. Atordoada pela doçura da voz nem percebeu o desaparecimento do monge, diante dos seus olhos.

Ao perceber o embuste, furiosa, jurou vingança eterna, ainda que isso lhe custasse o resquício de lucidez.

Bem, a Loucura foi tomar um lanche à base de nozes, para se distrair... Depois então, planejaria uma nova forma de roubar a sacolinha.

Afinal, seria loucura ficar sem comer o dia inteiro perseguindo Monges com sacolinhas.

Elizabeth