terça-feira, 21 de agosto de 2007

A CONSCIÊNCIA DESPERTA


Ao sentir a vida humana tão limitada, consigo por entre as brechas mais diminutas, enxergar a essência encoberta, quase definhando, quase desaparecendo. O seu ponto ínfimo de luz ainda clareia a minha consciência, remexendo a pontinha da cauda da serpente, o que me faz em delírios diante do Universo, da Vida e do Ser. Isso é fugir à realidade e medo de sofrer, dizem alguns. É o espírito de aventura do descobridor, que reside em mim. Quero ver o ponto de luz no meio da escuridão. Vislumbrar todas as cores contidas no branco. Desejo incontrolável de penetrar na parte e na contraparte, na face e na contra face, no espelho e na imagem. E não me dou por satisfeita e quero reunir as duas partes e transforma-las em uma só e ao mesmo tempo numa terceira. No absoluto? Esse navegar pelo relativo me é tão entedioso e fugaz. O prazer é relativo!!! A dor também é... Quero o verdadeiro prazer, aquele que é a síntese de todas as partes. E se não posso tê-lo, prefiro o nada que me contem. Medo se sofrer? Não! É não dar o gosto, é a rebeldia, é a revolta de ter tão pouco. Prazer? Dor? Eu compreendo o fino fio que os separa, e por isso quero ir além. Utopia? Nunca trilhei outro caminho a não ser o da busca incessante por ultrapassar a velocidade da luz. Uma desventurada aventura de saber quem sou eu, o que sou e para que, sou. A única coisa que sei é que preciso de Sacros Ofícios para vencer os deslizes, as viagens, os apegos. E principalmente, é preciso coragem e destreza para roubar o fogo do diabo, que não está em outro lugar, senão dentro de mim mesma. Céu e Inferno dançam ciranda em minha psique, uma parte dessa néscia criatura, que busca o fogo incessante para queimar-se por inteira. É Fohat, tudo está em mim e isso é um fato, questionável pela incompreensão da natureza humana.

Basta fechar os olhos e vislumbrar o verdadeiro ser. Basta tampar os ouvidos e ouvir o verdadeiro som, o verdadeiro verbo, basta calar os sentidos, para sentir a verdade, quase absoluta. Um átomo de vida que parece inatingível. Energia atômica e eletrônica se entrelaçando num emaranhado de teias, num movimento caótico e desordenado.

O teatro, a pantomina faz parte do meu cotidiano... Uma brincadeira de criança. Brinco dia e noite e essa é a contraparte da aventura tão séria, da qual estou arraigada e flutuante. A trajetória do vôo, parece brincadeira e nos faz rir feito loucos... Gargalhar da ironia desse destino sem destino, que está destinado a nada, pois o mergulho é peculiar e só os bons nadadores voltam à tona para contar como é o fundo do poço.

Quando ouço falarem dos homens e da vida, me dá uma tontura filosófica, não por incompreensão ao que é dito, mas porque conseguem torná-la mais trágica ainda. E uma dor profunda junto a uma leve impressão que não vamos entender o fogo e a luz, que são os únicos botes salva vidas... Barco... Arco ou arca?

O fogo que queima e devora, precisa ser devorado. A luz que tudo atravessa, precisa ser atravessada.

A eloqüência, tão bela ferramenta da laringe criadora pode jogar a humanidade mais fundo do que já está, mas também pode levantar os seres no mais alto das montanhas azuis com puro oxigênio.

As ondas luciféricas, tão necessárias, me fazem levantar a cabeça e enxergar mais um vão, por onde caem as criaturas. E a guerra santa, inicia-se de forma brutal. E cada partícula do ser e a sua contra partícula buscam o conúbio... Expressam, no mundo físico, Eros e Psique, os habitantes do mundo multidimensional que está muito além do bem e do mal.

Quando penso, sinto, sou e escrevo é para expressar a minha essência da forma mais completa que puder. Uma essência incontida, dentro de uma matriz na matrix.

A Grande Lei manifesta-se no meu mundo microcósmico nas atitudes mais pueris como na formação de conceitos, os mais complexos. Eu sou o átomo e a molécula e o pulsar do meu sangue é o mesmo pulsar dos quasares. Tudo é a mesma energia, a mesma substância. Como negar o óbvio? Basta olhar o céu numa noite estrelada e ver a si mesmo estampado no espaço, numa proporção tão diminuta, que chega a doer.

Contradições? Incoerências? Estamos todos fincados nisso como gosmas grudadas, porque não temos Consciência desperta.

Consciência para captar no momento, todo o evento, em sua plenitude. Não basta detectar para depois comprovar... É preciso viver, ser e saber naquele momento, sem perder nenhum detalhe.

A velha e a nova ordem mantida pelo desejo e a vaidade estão à beira dos destroços... Quero saber, tim-tim por tim-tim o que fica por trás da minha cabeça e da cabeça do outro, porque o outro é a extensão de toda experiência.

Quando vivo e experimento as duas faces de uma mesma moeda é para transcender as multiplicidades e penetrar a unidade. Essa aventura de entranhar a menor partícula, é um desejo banal de ser o átomo viajando no elétron.

Enquanto isso não se dá, a aventura é um ensaio e erro constantes e as conclusões variam conforme os sentidos e vão desde o intelecto até as intuições mais puras.

Bom, comigo ou sem migo, com isso ou sem isso é preciso ser forte, porque só os fortes sobrevivem a esse impasse. A busca é uma ânsia louca que só aos loucos pertence e eu vivo nessa loucura...

Elizabeth

terça-feira, 14 de agosto de 2007

ONDAS DIONÍSICAS



Você não é você, não é ele, não é nada, ninguém.

Mas é, nas entrelinhas desse olhar bestial, mestre nos disfarces humanos. Esconde-se de tudo, de mim, mas o vejo de perfil, permeio seus gestos artificiais e suas brincadeiras cruéis.

A pele é macia, a figura, uma fantasia de filme de época.

O corpo leve, como uma brincadeira de criança. A energia sutil e perigosa, bastaria tocar na pele do seu rosto para sentir a realidade.

Você ri da minha ingenuidade, do meu gesto infantil.

Quisera tocá-lo profundamente, mas está tão distante, foge dos meus encantos e o seu canto só eu sei, é o cântico dos cânticos.

Aparece e desaparece, passa o tempo brincando e eu o cultuo, presto minhas reverências, sentindo o auspício da sua presença.

Você me dá uma chave e um corredor com muitas portas. Eu corro ansiosa, tentando uma por uma. Volto o rosto, escuto sua risada sarcástica.

É um enigma perigoso... Vejo no canto da sua boca, além da prova real, escorrer o vinho que me embriaga. E na busca da liquidez do delírio, perco a razão.

A lucidez dá lugar ao êxtase, sinto-me só, mas não causo pena. Você espera o meu triunfo num carro amarelo com sete velocidades diferentes. Não me dá o privilégio de tocar-lhe o âmago; não me dá de beber do seu êxtase, sem limites.

Vem em ondas, deslizo devagar... Um suor quente escorre pelo meu pescoço, sinto as pernas vibrarem, não consigo controlar.

As pernas entre pernas, são as minhas próprias penas, arraigadas ao pó da terra, não me permitem voar.

Sacia-me com essa liquidez avermelhada e num gesto mutante, crio asas como Pégasus.

Deixe-me flutuar no éter até o Sol de Sírio, em troca, só tenho um girassol.

Não aprecio do seu vinho? Não conheço o seu sabor? Não distinguo o seu cheiro? Não reconheço suas ondas?

Ensina-me então, a Ciência/Arte da transmutação...

Então você me olha, com esse olhar humano, disfarçando o brilho, usando um corpo falso, uma pele falsa, pernas como tantas pernas, tanto quanto iguais as minhas, para me enganar.

E eu, choro... Por não alcançar sua essência, penetrar o seu íntimo, tornar-me o elétron e desvendar os mistérios da criação.

Com esse olhar bestial, olhar dos deuses hilariantes, não me traia doze vezes, não me castigue dezesseis, mostre-me a verdade, tal como é...

Abaixe a cortina, quero vislumbrar a beleza plena da luz, fale comigo e me leve até a porta... Então, abraça-me apertado e beije meu umbigo... Segure nas minhas mãos e nunca me deixe. E num gesto impulsivo, me gire no espaço, Virtual Criatura Andrógina, transmutando-se em pura energia eletrônica e despedaçando-me em sons mágicos.

Elizabeth

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

POETAS E LOUCOS


Onde estão os deuses travestidos em humanos?

Com razão de ser tal qual, ilusões?

E tudo cai por terra como um furacão que passa devastando... E no seu centro o equilíbrio silencioso, centrífugo.

E olhei aquela arte, sem sentido de arte!

Não enxerguei o concreto no meio da poesia.

Não enxerguei a pintura e tive a leve impressão que tudo era fútil, naquela exposição. E fui num ponto, acima da referência, pra ter uma outra visão, mudar de opinião... Não enxerguei nada, além da minha miopia.

Adentrei a sala... A poesia está dentro? Ou fora?

Que droga, não estou conseguindo enxergar o extraordinário. O que está faltando?

Os diálogos são os mesmos, os gestos, os movimentos, os olhares, as bocas entreabertas soltando letras ao vento. Parada, fico a ouvir, a mesma coisa que escuto há milênios.

De repente, não ouço mais os diálogos intermitentes. Agora, ouço uma melodia. O cantor me levou ao centro, ao centro do ser e algo me tocou fundo. Seria o som? Seriam as palavras? Não sei dizer! São metáforas.

Sentei meio atordoada, olhei meio desconcertada para a doçura destilada. O coração apertou, a alma caiu num doce de leite, fiquei petrificada. A música foi se alastrando em mim e fui me transformando em melodia e o cantor sorria. Ele parecia ser o dono da história e da minha situação.

Quando parou de cantar, caí por terra e lamentei o fim do êxtase.

O que vale é a criação? É derramar-se em sementes pelo chão? Cristalizar estrelas ou flores, em delírios incomuns?

Já que tudo é tão rápido e fugaz, fujo desse lugar para qualquer outro que não entendo, dá tudo na mesma.

Depois de ouvir Garcia Lorca, saí para a rua sem sentido, acompanhada por um existencialismo exumado, jogado de volta ao túmulo.

Os homens tão apressados, desconectados de eloquência e eu já não me sinto uma casta diana... Senti algo frívolo, fugaz, contemporânea ao tempo absurdo das coisas vãs.

Caminho pensando num poema e aquele louco do meu lado...

Às vezes, não compreendo as mensagens do Universo, operando em mim. Olhei pra lua, acho que começa a crescente e não recebi nenhum recado. No caminho tomei uma sprite e aquele louco do meu lado. Senti-me jogada, o Universo não fala comigo, não me dá o sentido das coisas como são, tal como aquele sonho que me impressionou.

Atravesso a rua, desconsolada e aquele louco do meu lado, vou buscar um pouco de dinheiro. Talvez, eu até perca o ônibus, ai que fila no caixa eletrônico. Muita gente... Muito tarde... Vou perder o último ônibus.

De repente, um por um vai saindo da fila, caiu o sistema daquela droga... Não sai uma nota, fala o pessoal. Anoto no meu caderno: “Hoje não é o meu dia”. Não tenho dinheiro nem para o ônibus. Todos foram embora, até o meu desejo de jogar um coquetel molotov naquele caixa. É o último sortilégio. Entro no caixa. Então, o Universo comunica-se...As fadas cederam, o desejo venceu, o Universo concedeu. Fiquei em êxtase! Dei um tempo. O sistema voltou. Só, peguei o dinheiro, com aquele louco do meu lado. Num lapso de segundos, me lembrei do Léo e aquele desejo ardente num corpo semi-nu, cheio de uma energia masculina. Bastou olhar e se apaixonar. Uma química voraz, um desejo incontrolável de acariciar aquela pele morena com cheiro de fruta que não existe. Naquele momento, o universo concedeu e eu me recusei só por causa da vulgaridade. E hoje, no entanto, achei a poesia uma gosma! Lembrei do Leo, tão vulgar e a minha abominação em prol da poesia. E hoje, a poesia não era tão intensa assim...não entendo essa sina!

O sorriso sarcástico, mas a pele morena com aroma de fruta... E o desejo ardente de um leão... Acho que são signos ocultos! Um desejo infame de ser adorado, ainda mais por alguém que sabe adorar...

Ah, quantas atitudes bestiais... Consegui pegar o dinheiro, já posso voltar para casa e dormir. Dormir na eternidade!

Quanto mais desejo a claridade, densas trevas me rodeiam. A chama é sempre minúscula... Quando vou penetrar no todo e me devorar?

Elizabeth