sábado, 19 de maio de 2007

O MONGE E A LOUCURA


Nos recôncavos do mundo onde 2+2 são 5 há um monge que vive encerrado em seu cárcere invisível, torturado por um cilício de metal.

Toda manhã, depois da noite em claro, cobre seu rosto com as mãos para que os raios de sol não penetre em seus olhos.

Como de hábito, troca seu hábito negro por um branco ou então o branco por um negro. Não costuma dar importância a esse paradoxo interminável, pois acredita na síntese espontânea.

Todos os seus segredos e mistérios estão guardados numa sacolinha púrpura, que brilha amarrada à cintura por um cordão de prata.

Dentro da sacolinha está um colar de 108 contas que ele fica a contar e a recontar num gesto calculado e perfeito (ninguém sabe porquê).

Além do colar, tem umas areias finas que nunca utiliza, por achá-las desnecessárias...ainda não descobriu a sua verdadeira utilidade.
Esse monge, não se liga a coisas fúteis, pois traz em em si um grande senso de responsabilidade... que lhe dói nos ombros, como um Atlas que carrega o mundo.

Ainda há na sacolinha, uma opala que esfrega nas mãos. Suas mãos, em contato com a pedra tornam-se mágicas. Adquire o poder de curar todas as doenças do mundo, aliviando a dor e o desespero dos homens, impedindo o desperdício de Eros. Sua verdadeira missão é evitar esse desperdício.

Deparou certo dia, em seu reto caminho, a própria Loucura que vaga pela terra dos homens. Num instante de serenidade ou talvez surpresa, descobriram certa cumplicidade natural.

Essa filha do Caos e das tormentas infinitas admira a figura do Monge, tão nobre e tão bela...provoca nela o desejo de mais conhecimento, aguçando sua curiosidade.

No entanto, seu verdadeiro interesse é apropriar-se da sacolinha púrpura onde está guardado o segredo da vida e da morte.

Em seu desejo insano e lutas inglórias quer a preciosa areia para embaçar seus olhos nos momentos de fúria, trazendo-lhe o sono e a morte que alivia.

Quer o colar de contas para ordenar suas infinitas vidas, nas mais variadas matizes.

Mas quer, principalmente a Opala, a pedra de poder. Quer a magia em suas mãos, num gesto terrível de predigistação. Deseja moldar as imagens e depois distorcê-las, configurá-las e montá-las ao seu bel prazer. Um jogo de montar quebra-cabeças gigantescos, para distrair-se em seus momentos de tédio e de dor.

Busca no Monge, a inspiração necessária e retribui com histórias encantadas para sobreviver ao impasse da instabilidade.

E ao descobrir, que além da sacolinha púrpura, o Monge traz nos lábios o poderoso Mantra, cresce dentro dela, uma ambição desmedida. Quer apoderar-se do som, roubar-lhe o âmago para torná-lo uma criatura criada de suas próprias entranhas.

E qual seria o Mantra?

Enquanto não descobre, rodeia o monge, observando seus gestos...

E vive feliz, comendo perdiz temperada com açafrão (essa é a moral...imoral ou amoral dessa história).

ELIZABETH

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