Nos recôncavos do mundo onde 2+2 são 5 há um monge que vive encerrado em seu cárcere invisível, torturado por um cilício de metal.
Como de hábito, troca seu hábito negro por um branco ou então o branco por um negro. Não costuma dar importância a esse paradoxo interminável, pois acredita na síntese espontânea.
Todos os seus segredos e mistérios estão guardados numa sacolinha púrpura, que brilha amarrada à cintura por um cordão de prata.
Dentro da sacolinha está um colar de 108 contas que ele fica a contar e a recontar num gesto calculado e perfeito (ninguém sabe porquê).
Além do colar, tem umas areias finas que nunca utiliza, por achá-las desnecessárias...ainda não descobriu a sua verdadeira utilidade.
Esse monge, não se liga a coisas fúteis, pois traz em em si um grande senso de responsabilidade... que lhe dói nos ombros, como um Atlas que carrega o mundo.
Ainda há na sacolinha, uma opala que esfrega nas mãos. Suas mãos, em contato com a pedra tornam-se mágicas. Adquire o poder de curar todas as doenças do mundo, aliviando a dor e o desespero dos homens, impedindo o desperdício de Eros. Sua verdadeira missão é evitar esse desperdício.
Deparou certo dia, em seu reto caminho, a própria Loucura que vaga pela terra dos homens. Num instante de serenidade ou talvez surpresa, descobriram certa cumplicidade natural.
Essa filha do Caos e das tormentas infinitas admira a figura do Monge, tão nobre e tão bela...provoca nela o desejo de mais conhecimento, aguçando sua curiosidade.
No entanto, seu verdadeiro interesse é apropriar-se da sacolinha púrpura onde está guardado o segredo da vida e da morte.
Em seu desejo insano e lutas inglórias quer a preciosa areia para embaçar seus olhos nos momentos de fúria, trazendo-lhe o sono e a morte que alivia.
Quer o colar de contas para ordenar suas infinitas vidas, nas mais variadas matizes.
Mas quer, principalmente a Opala, a pedra de poder. Quer a magia em suas mãos, num gesto terrível de predigistação. Deseja moldar as imagens e depois distorcê-las, configurá-las e montá-las ao seu bel prazer. Um jogo de montar quebra-cabeças gigantescos, para distrair-se em seus momentos de tédio e de dor.
Busca no Monge, a inspiração necessária e retribui com histórias encantadas para sobreviver ao impasse da instabilidade.
E ao descobrir, que além da sacolinha púrpura, o Monge traz nos lábios o poderoso Mantra, cresce dentro dela, uma ambição desmedida. Quer apoderar-se do som, roubar-lhe o âmago para torná-lo uma criatura criada de suas próprias entranhas.
Enquanto não descobre, rodeia o monge, observando seus gestos...
E vive feliz, comendo perdiz temperada com açafrão (essa é a moral...imoral ou amoral dessa história).
ELIZABETH
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