Como poderia perder algo que já se possui?
Como poderia ganhar ou perder, dar liberdade ou usurpar se dentro de nós existe toda sorte de liberdade e toda sorte de desenganos?
Dentro de nós é tudo tão natural e não contribuímos em nada para isso. Simplesmente somos. E como tudo, não criamos e não perdemos, só nos transformamos como lagartas em borboletas coloridas, voadoras salientes que chocam nossas débeis retinas desconexas.
Mas o verbo tem poder, a palavra é forte, uma energia poderosa que se desprende das nossas bocas e não sabemos o suficiente para compreender a extensão.
Ao pronunciar “para sempre” é como se fosse eterno. Uma corrente elétrica violenta o frescor das células, dando lugar a um calor adrenalínico. O medo ilusório encobre a consciência. O sentimento e o pensamento colhem isso como uma “verdade”. É num lapso se escuta o estrondo do trovão em meio a uma violenta tempestade sem fim. O desespero se instala levado pela ilusão do segundo.
Ao sentir você saindo de mim, espalham-se o estremecimento e a agonia em meu corpo porque não queria lhe perder para sempre. Um momento de impulso e sobrevivência.
No outro segundo, a compreensão vem chegando vagarosamente e pousa tranquila. E só então as palavras ressoam serenas aos ouvidos mágicos de quem as escuta. E num gesto metalinguístico me estendo diante de tudo quanto é horizonte só para mostrar que sou vertical.
Só tive medo de nunca mais poder segurar suas belas mãos e nunca mais beijar seus olhos profundos e nem abraçar o seu corpo quente ou cheirar os seus cabelos molhados. Só foi isso, mais nada! Foi por isso que me tornei tão humana diante de um segundo enlouquecedor. A fragilidade me pegou de jeito, mas tudo isso é necessário para quebrar o orgulho de ser divina. Esse segundo enlouquecedor da perda, é um ritual... Uma tentativa de rompimento do elo. Um ritual de rompimento, essa mania de inventar coisas...
O nosso texto, já virou um contexto. Eu sou o poema e as palavras e depois trocamos as posições num gesto arbitrário e sincronizado. Enfim, não se distingue mais qual é o coração que bate mais forte. O seu ser me completa! E nele, está todo o entendimento dos meus impulsos decadentes. E nesse amor trivial de deuses travestidos em humanos, cavalgamos espaços em vassouras mágicas. Deuses que devoram estrelas num gesto canibalístico ou cabalístico? O desejo transcende e dança, criando universos.
O meu êxtase sem fim é sugar a sua essência, interpenetrando na minha, num gesto andrógino e intenso.
Se a profundidade é um vício, a vulgaridade é uma droga. Quanto mais profundo, mais dolorido. Não há outra saída e essa é, a única possibilidade da viagem louca para dentro de mim.
Nunca perderia você para sempre. Não se perde o que se é. É impossível romper-se. Existe por si só e sem um pingo de dó ludibria nossas mentes vãs. É o amor das mil faces que tenho em mim, estão todas entrelaçadas às suas mil. Para cada face, a outra face que nos oferecemos de graça, só para achar graça em tudo que fazemos. E não minto “quando juro amor sem fim”
O meu amor é o prana que alimenta minhas entranhas sequiosas de amplidão. É o amor de vôos etéricos, alturas plenas, abismos cósmicos, silêncio de mantrans. O feminino e o masculino num eterno conúbio, ultrapassando os limites de espaços, tornando-se uma unidade perfeita. A mesma substância e a mesma energia.
Vamos fazer de conta que está indo buscar um copo de água para matar minha sede. Vou ficar esperando a água para me saciar. Enquanto isso, Correrá o mundo, vestindo muitas fantasias, criará laços e por fim esquecerá do meu copo d’água. De repente, lembra da sua verdadeira origem que termina sempre em mim. E eu lá, esperando o copo d’água por séculos. Então, chegará o nosso novo encontro: a minha sede e o seu líquido! E não é preciso rastrear seus passos, com toques ou retoques, com tatos e contatos, apenas a percepção plena das cores, dos sons e dos símbolos. Tudo isso, porque não tenho a palavra adequada pra por na “boca malvada da sua descerebração”.
Enquanto não rompemos os laços momentaneamente, vamos passear juntos pelos jardins e esplanadas, só para não se perder do todo. Não nos cansemos nem nos desgastemos em vão, só vamos olhar um para o outro sem se desviar, apenas e tão apenas para não se perder do todo.
Enquanto não há fusão só vamos falando da sede e da água, como um mantran que nos mantêm ligados a esse cordão invisível.
Fique mais um pouco comigo, porque o tempo e o espaço é uma mera ilusão dos nossos sentidos. Fique mais alguns segundos para que eu possa re-lembrar.
A sua presença é uma luz que irradia em mim feito néon e quando alçar meu vôo, levo você comigo arrebatando-o sem dor nem piedade, pois sei que está ligado a minha natureza cruel. Uma luz que jamais se extinguirá!
Elizabeth