quarta-feira, 27 de junho de 2007

O PÉ QUE EXISTE EM NÓS

Tocou-lhe os seios, o ventre, as pernas, as nádegas e pode sentir todos os orgasmos possíveis, mas não tocou seu coração, nem atingiu sua alma solitária.

Sabia agora, que só a morte, somente esse fantasma poderia despertar o seu sono profundo. Somente essa quimera poderia penetrar o seu âmago, numa atitude visceral. E então, todos os orgasmos reunidos, todos os impossíveis numa corrente elétrica usurpar-lhe-iam a vida, criando a verdadeira vida-morte-vida.

Mas qual o quê! Era ainda, comum a sua vida. Teve vários orgasmos reunidos numa cadeia infinda, isso para encadear os segundos, os minutos, as horas, os dias, as semanas, os meses, os anos, enfim a vida, num crescente estado de intensidade...mas em vão.

Seu olhar vago percorria pelo escuro do quarto. Não lhe saia do pensamento a banalidade de ser tão pouco. A respiração do outro era tão comum como a sua própria...nem sequer passava por sua mente alguma ira, nem vivia pela mentira.

Enquanto o outro dorme, essa cria da natura, do diabo e da loucura sai mansamente em direção ao nada.

Caminha na multidão, quieta, estóica, com os olhos carregados de um brilho indiferente. Faz parte da série, mas está profundamente cheia de si mesma. Entra num prédio...automaticamente aperta o botão do elevador...seu ventre sobe e desce...está totalmente voltada para si mesma.

A porta abre agressiva chocando as entranhas da estranha criatura. Adianta um passo...Entra! O elevador está cheio de gente, mas ela continua só com seu mundo anárquico. Com seu mundo em chamas...chamas dilacerando as próprias vísceras.

O elevador sobe rápido como os pensamentos que se amontoam e se confundem na luta contra o tempo. No rosto de todos, o cansaço. O cansaço da demora da rapidez do elevador. O seu, está passivo, sem pressa. As pessoas vão saindo a cada andar e vai diminuindo o número de possibilidades de não ser só.

Último andar: só resta ela! Sai devagar, serena e indiferente a tudo que a rodeia. Para... Olha o azul do céu, quase pode tocá-lo com as mãos. Depois olha para baixo...As pessoas são tão pequenas e longínquas. Depois olha novamente para o azul que a empolga, numa atitude bestial. No rosto, antes estóico, paira agora um ar de estremecimento ou talvez náusea, quem sabe? Quase pode tocar o céu e lá embaixo uma multidão correndo em séries multiplicadas.

Depois um salto leve... Quase sem motivo de ser. Quer juntar-se ao pó, única substância que conhece com tanta intensidade.

E como uma pluma vai flutuando, até alcançar a plenitude da vida...

Elizabeth